Entenda o vídeo da descida da sonda Huygens em Titã, a lua de Saturno

No dia 14 de janeiro de 2005, a sonda Huygens, da ESA (sigla em inglês para European Space Agency), realizou com sucesso sua descida à superfície de Titã. Este feito permanece, até hoje, como o pouso mais distante da Terra já realizado por um objeto criado pelo homem.

A Huygens era parte da missão conjunta Cassini-Huygens, uma colaboração entre a NASA e a ESA para explorar o sistema de Saturno. A missão teve início em 15 de outubro de 1997, quando o orbitador Cassini foi lançado em uma jornada de sete anos rumo ao planeta. Acoplada à Cassini estava a sonda Huygens, projetada para descer de paraquedas em Titã, a maior das luas saturnianas.

O capítulo mais desafiador dessa jornada teve início em 25 de dezembro de 2004, quando a Huygens foi desacoplada da Cassini e iniciou sua viagem de 22 dias até Titã. Durante a descida à superfície do satélite, que durou 2 horas e 27 minutos, a sonda enfrentou a densa atmosfera de Titã, mas conseguiu pousar com segurança.

Enquanto a Huygens esteve ativa em Titã, a Cassini funcionou como intermediária, recebendo os dados transmitidos pela sonda e repassando-os aos operadores na Terra.

Nenhum comando remoto foi enviado para a Huygens após sua separação da Cassini, já que todas as operações subsequentes foram executadas automaticamente, conforme instruções pré-programadas.

A missão da Huygens tinha limitações importantes: ela só podia transmitir dados enquanto a Cassini estivesse na posição correta para receber o sinal, e suas baterias tinham uma duração limitada – pouco mais de 3 horas, cobrindo a descida e o pouso. Quando a bateria se esgotou, a Huygens parou de transmitir informações.

Durante a descida e o pouso na superfície, a sonda capturou dados e imagens de Titã. No entanto, um problema de comunicação limitou o número de fotos transmitidas: das 700 planejadas, apenas 376 chegaram aos operadores na Terra.

Vídeo real ou animação?

O vídeo acima foi criado pela ESA e mostra a descida e o pouso da sonda Huygens em Titã. Para quem não entendeu, trata-se de uma animação baseada em fotos reais capturadas pela sonda. As partes que retratam a descida e o pouso foram feitas a partir dessas imagens, levando em consideração as condições atmosféricas de Titã.

Quase no final do vídeo, aparece uma foto processada da superfície de Titã, tirada pela Huygens após o pouso. Logo abaixo, você pode ver a mesma imagem, mas sem o processamento.

As câmeras da Huygens não capturavam vídeos em alta resolução ou cores. Seu imageador, chamado Descent Imager/Spectral Radiometer (DISR), produzia fotos em preto e branco de baixa qualidade. Por isso, as imagens precisaram ser coloridas e aprimoradas para criar o vídeo.

A Huygens pousou em uma área repleta de rochas arredondadas. Abaixo, compare a foto original em preto e branco com versões processadas:

Descobertas da Huygens em Titã

Titã é a segunda maior lua do Sistema Solar, maior até que o planeta Mercúrio. Apesar de gelada, essa lua apresenta semelhanças surpreendentes com a Terra: lá também chove, há rios e lagos – mas tudo é composto principalmente por metano líquido, e não água.

Acredita-se que a atmosfera de Titã seja semelhante à da Terra antiga, antes do surgimento da vida. Por isso, estudos sobre essa lua podem oferecer pistas sobre as reações químicas que antecederam a vida no nosso planeta.

Durante sua descida, a Huygens analisou a temperatura, pressão e densidade da atmosfera de Titã a partir de uma altitude de 1.400 km da superfície. A sonda trouxe indícios da existência de um oceano subterrâneo e revelou evidências de leitos de rios. Posteriormente, foi confirmada a presença de lagos de hidrocarbonetos nas regiões polares.

A missão da Huygens terminou no mesmo dia do pouso, em 14 de janeiro de 2005, após a perda de contato. Já a Cassini continuou a operar até 15 de setembro de 2017, estudando Saturno e suas luas e ampliando nosso conhecimento sobre o sistema saturniano.