Oceanos além da Terra: o que são mundos oceânicos e onde eles estão
Luas geladas do Sistema Solar e exoplanetas distantes podem esconder vastos oceanos de água líquida. Descubra quais são esses mundos oceânicos!
por Geison Souza
Um mundo oceânico é qualquer planeta, exoplaneta, planeta anão ou satélite natural que possua um oceano de água líquida. Esse oceano pode ser subterrâneo, ou seja, abaixo de uma crosta gelada, como ocorre em algumas luas de Júpiter e Saturno, ou pode estar na superfície, como no planeta Terra.
Cerca de 71% da superfície da Terra é coberta por água líquida. Por isso, ao pensar em mundos oceânicos, o primeiro lugar que vem à mente é o nosso planeta. No entanto, há fortes indícios de que a Terra não seja o único corpo no Sistema Solar a abrigar oceanos.
Desde o século passado, estudos sugerem que algumas luas de planetas gasosos no Sistema Solar, conhecidas como "luas geladas", possuem uma espessa crosta de gelo que pode esconder, abaixo de sua superfície, um vasto oceano subterrâneo de água líquida.
Embora estejam longe do Sol, luas geladas como Europa e Ganímedes (de Júpiter) e Encélado e Titã (de Saturno) possuem calor interno gerado pelo aquecimento por maré, um efeito causado pela interação gravitacional com seus planetas gasosos.
Esse calor interno é fundamental para manter possíveis oceanos subterrâneos em estado líquido, evitando o congelamento total. Enquanto isso, a crosta de gelo dessas luas funciona como um isolante térmico, impedindo que a água líquida abaixo dela seja exposta a condições extremas.
Principais candidatos a mundos oceânicos no Sistema Solar:
Encélado (lua de Saturno)
Encélado, uma das luas de Saturno, foi alvo de medições realizadas pela sonda Cassini, que sobrevoou a lua e trouxe fortes evidências de um vasto oceano subterrâneo escondido sob sua crosta gelada, que pode ter entre 30 e 40 km de espessura.
Jatos de vapor d’água e partículas de gelo foram observados sendo expelidos para o espaço através de fissuras no gelo, conhecidas como "Listras de Tigre", próximas ao polo sul de Encélado. Esses jatos são um indicativo de atividade interna no satélite.
Esses jatos provavelmente vêm de um oceano profundo e são possivelmente um sinal de fontes hidrotermais em seu fundo rochoso, uma condição similar àquelas que podem ter dado origem à vida na Terra.
Europa (lua de Júpiter)
Há décadas, cientistas acreditam que Europa, uma lua de Júpiter, pode abrigar um oceano subterrâneo de água líquida abaixo de sua crosta congelada. Observações da sonda Galileo, que explorou o sistema de Júpiter entre 1995 e 2003, forneceram evidências que apontam para um imenso oceano em Europa.
Esse oceano poderia conter até duas vezes mais água do que todos os oceanos da Terra juntos. A crosta de gelo que cobre a lua Europa varia de 15 a 25 km de espessura. Além disso, assim como Encélado, Europa pode estar liberando vapor d'água no espaço.
Titã (lua de Saturno)
A maior lua de Saturno, Titã, pode esconder um oceano subterrâneo sob sua crosta gelada. Essa descoberta é baseada em medições feitas pela sonda Cassini da NASA e pela sonda Huygens da ESA, que desceu com sucesso até a superfície de Titã em 2005.
Os dados coletados revelaram evidências de água líquida com sais e amônia sob uma camada de gelo de até 100 km de espessura. Esse oceano subterrâneo pode alcançar 200 km de profundidade, contendo um volume de água 12 vezes maior que o dos oceanos terrestres combinados.
Titã é notável não apenas por seu oceano oculto, mas também por ser a única lua do Sistema Solar com uma atmosfera densa e nuvens. Sua superfície apresenta características únicas, como lagos e rios compostos de metano líquido, além de chuvas desse mesmo composto químico.
Ganímedes (lua de Júpiter)
Ganímedes é a maior lua de Júpiter e também a maior do Sistema Solar, superando até mesmo o planeta Mercúrio em tamanho. Além de seu impressionante tamanho, essa lua gelada desperta grande interesse devido a indícios de um oceano subterrâneo.
Dados obtidos pela sonda Galileo e pelo Telescópio Espacial Hubble indicam a existência de um vasto oceano subterrâneo de água líquida escondido sob sua crosta de gelo, que pode ter até 150 km de espessura. Acredita-se que esse oceano contenha mais água do que todos os oceanos da Terra juntos.
Plutão (planeta anão)
Plutão não tem um planeta enorme para orbitar, o que significa que ele não sofre as influências gravitacionais das luas geladas do Sistema Solar. Além disso, por estar muito distante do Sol, sua temperatura média é extremamente baixa, cerca de -230°C.
No entanto, em 2015, a sonda New Horizons sobrevoou Plutão e revelou indícios de um oceano subterrâneo de água líquida escondido sob sua superfície congelada. Essa descoberta foi uma grande surpresa para os cientistas, pois contradiz a visão tradicional sobre Plutão.
Cientistas acreditam que esse oceano se formou devido ao calor gerado pela desintegração radioativa de elementos no interior de Plutão. Além disso, acredita-se que hidratos de gás possam ajudar a manter o oceano em estado líquido, evitando que ele congele completamente.
Outros candidatos a mundos oceânicos no Sistema Solar
- Calisto (lua de Júpiter): Dados da sonda Galileo sugerem a existência de um oceano subterrâneo de água líquida abaixo da crosta gelada de Calisto.
- Dione (lua de Saturno): Estudos de gravidade indicam que essa lua pode ter um oceano subterrâneo de água líquida, localizado a cerca de 100 km abaixo de sua espessa crosta gelada.
- Mimas (lua de Saturno): Um estudo publicado em 2024 sugere que essa pequena lua pode ter um oceano subterrâneo escondido em sua crosta de gelo, que pode ter até 30 km de espessura.
- Tritão (lua de Netuno): Suspeita-se que essa intrigante lua gelada de Netuno possa abrigar um oceano subterrâneo de água líquida, escondido sob sua espessa crosta de gelo.
- Ceres (planeta anão): Esse planeta anão, localizado no Cinturão de Asteroides, pode abrigar um oceano subterrâneo de água líquida, de acordo com dados da sonda Dawn.
Exoplanetas
Exoplanetas são planetas que orbitam estrelas fora do Sistema Solar. Para que um exoplaneta tenha condições de abrigar oceanos de água líquida na sua superfície, um dos requisitos é que ele deve estar localizado na "zona habitável" de sua estrela, onde as temperaturas são equilibradas.
Em junho de 2020, cientistas da NASA, com base em modelos matemáticos, sugeriram que mais de um quarto dos exoplanetas estudados na Via Láctea podem ser mundos com oceanos de água líquida. Muitos desses oceanos seriam semelhantes aos encontrados em Europa e Encélado, luas de Júpiter e Saturno.
Ou seja, muitos planetas fora do Sistema Solar podem ter oceanos subterrâneos ocultos abaixo da superfície, sob uma espessa camada de gelo. Além disso, assim como ocorre em nosso Sistema Solar, luas que orbitam exoplanetas também podem conter oceanos subterrâneos.

Um exemplo de exoplaneta que pode ter um oceano de água líquida em sua superfície é TOI-1452 b. Descoberto em 2022 pelo telescópio espacial TESS da NASA, ele está localizado a cerca de 100 anos-luz da Terra. Esse planeta é maior que a Terra e está na zona habitável de sua estrela, chamada TOI-1452.
Os cientistas acreditam que TOI-1452 b seja um "planeta oceânico", com toda sua superfície coberta por água líquida. Também consideram que ele seja rochoso como a Terra, mas, ao contrário do nosso planeta, onde a água representa menos de 1% da massa, em TOI-1452 b ela pode compor até 30% de sua massa.
Conclusão
A descoberta de oceanos de água líquida em outros mundos, seja na superfície ou subterrâneos, sob camadas de gelo, é um forte indício de que esses corpos podem abrigar vida. Na Terra, os oceanos profundos são apontados como o local de origem da vida, e o mesmo pode ser verdade para esses mundos distantes.
Tecnologias avançadas, como sondas e telescópios espaciais, têm permitido a exploração desses mundos misteriosos. Se confirmados, os mundos oceânicos podem ser mais comuns do que imaginamos, e quem sabe um dia, poderemos descobrir vida extraterrestre neles.