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Que fim levou o VLS, o foguete brasileiro que deveria colocar satélites em órbita?

O VLS (Veículo Lançador de Satélites) foi, possivelmente, o projeto mais ambicioso que o Brasil já tentou levar adiante; no entanto, acabou sendo descontinuado. Entenda os motivos!

por Geison Souza
Que fim levou o VLS, o foguete brasileiro que deveria colocar satélites em órbita?
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Estamos em 2025, e o Brasil ainda não conseguiu desenvolver um foguete capaz de colocar satélites na órbita da Terra. Esse é um objetivo antigo do país, que desde os anos 1980 tenta construir um foguete lançador de satélites. Durante muito tempo, a aposta foi no polêmico VLS (Veículo Lançador de Satélites), possivelmente o projeto mais ambicioso que o Brasil já tentou levar adiante; no entanto, o VLS foi descontinuado sem jamais ter colocado um satélite no espaço.

O projeto VLS nasceu em meados dos anos 80, com a ambição brasileira de desenvolver um foguete lançador de satélites, aproveitando o conhecimento tecnológico que o Brasil adquiriu entre as décadas de 1960 e 1980 com o desenvolvimento dos foguetes da família Sonda.

Os foguetes da família Sonda foram a primeira série nacional de foguetes. Ao todo, o Brasil desenvolveu quatro modelos da linha Sonda, porém, nenhum deles foi projetado para lançar satélites ao espaço. Em vez disso, foram concebidos para transportar cargas úteis destinadas à realização de experimentos científicos e tecnológicos.

No final dos anos 90, após mais de uma década de desenvolvimento, o VLS-1, único modelo da linha VLS, passou por dois voos de qualificação. Infelizmente, ambos os testes foram fracassados. Durante esse período, duas versões do modelo foram desenvolvidas: o VLS-1 V01 e o VLS-1 V02.

  • VLS-1 V01: Em 1997, foi lançado o protótipo do VLS-1, identificado como V01, que levava a bordo o satélite de coleta de dados SCD-2A. No entanto, o lançamento de qualificação foi um fracasso devido a uma falha no propulsor do primeiro estágio.
  • VLS-1 V02: Em 1999, foi lançada outra versão do VLS-1, identificada como V02, que transportava o satélite de aplicações científicas SACI-2. Mais uma vez, o lançamento de qualificação falhou, dessa vez devido a uma falha no propulsor do segundo estágio.

Que fim levou o VLS?

O fim do projeto VLS começou em 22 de agosto de 2003, quando a terceira versão do VLS-1, o V03, explodiu, matando 21 profissionais que estavam na plataforma de lançamento da base de Alcântara, no Maranhão. Curiosamente, o VLS-1 V03 nem chegou a voar, pois explodiu três dias antes da data prevista para o seu lançamento de qualificação.

Após a tragédia de Alcântara, o governo brasileiro chegou a suspeitar até mesmo de sabotagem estrangeira, porém essa hipótese foi descartada. Constatou-se que a explosão do VLS-1 V03 ocorreu devido a uma falha elétrica, que acionou de forma inesperada um dos propulsores do foguete, fazendo o veículo tombar e explodir.

A tragédia de Alcântara abalou profundamente o projeto VLS, causando atrasos, corte nos investimentos e perda de apoio político. Os recursos do Programa Espacial Brasileiro tiveram que ser realocados para cobrir os custos do acidente, incluindo a base de lançamento, que foi comprometida pela explosão, levando mais de 10 anos para ser totalmente restaurada.

A explosão do foguete VLS-1 V03, que resultou na tragédia de Alcântara, marcou o início do fim do projeto VLS. (Imagem de Aílton de Freitas via O Globo)
A explosão do foguete VLS-1 V03, que resultou na tragédia de Alcântara, marcou o início do fim do projeto VLS. (Imagem de Aílton de Freitas via O Globo)

Outro fator que prejudicou o projeto VLS foi a decisão do governo federal, em 2003, de colocá-lo em segundo plano em favor de um acordo com a Ucrânia. Esse acordo tinha como objetivo o desenvolvimento do foguete lançador de satélites Cyclone-4. O problema é que o Brasil investiu 500 milhões de reais na parceria, mas não obteve nenhum resultado concreto. Em 2015, foi anunciado o rompimento do acordo com a Ucrânia.

Para piorar, o projeto VLS nunca foi bem visto pelo governo dos Estados Unidos, que dificultou a importação de diversos materiais essenciais para a construção do foguete. Isso ficou ainda mais claro após a divulgação de telegramas diplomáticos pelo WikiLeaks, nos quais autoridades estadunidenses revelaram uma "antiga política de não encorajar" as tentativas do Brasil de desenvolver seu próprio foguete.

Apesar dos inúmeros obstáculos, ainda havia planos para a construção do VLS-1 V04, uma versão final e totalmente revisada do foguete. No entanto, esse plano acabou sendo abandonado devido à falta de investimentos, dificuldades técnicas e, principalmente, à ausência de apoio político. Em 2016, o projeto VLS foi oficialmente descontinuado.

Na época, o governo federal alegou mudanças nas prioridades como justificativa para o fim do projeto VLS, anunciando que os esforços seriam redirecionados para o desenvolvimento do VLM (Veículo Lançador de Microssatélites), em parceria com a Agência Espacial Alemã (DLR, sigla em alemão).

O VLM está sendo projetado para colocar pequenos satélites em órbita terrestre e é considerado uma versão simplificada do VLS. Sua principal vantagem é o baixo custo de produção, além de um processo de construção teoricamente mais simples do que o do VLS.

No entanto, o VLM frequentemente é alvo de críticas, que argumentam que ele pode enfrentar dificuldades no mercado espacial. Isso se deve ao fato de que pequenos satélites costumam ser lançados como cargas secundárias em foguetes maiores. Empresas privadas, como SpaceX e Arianespace, já se estabeleceram com a estratégia de aproveitar uma única missão para lançar dezenas de pequenos satélites, o que resulta em custos menores.

E você, concorda com a decisão do governo federal de dar fim ao projeto VLS? Comente abaixo!

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